12 novembro, 2005

Poesias em Movimento


POESIAS EM MOVIMENTO
Juliano de Paiva Riciardi

Equilíbrio Dinâmico
Pedais
Olhos
Acento
Pernas
Guidão
Ouvidos
Freios
Mão
Raios
Cabeça
Corrente
Coração
Bicicleta
Gente
Ciclo
Relação


Volta Criança
Eita outra vez
O adulto se desfez
E fui andar descalço na chuva
Jogar bola na enxurrada
Com a minha moçada
Andar pela calçada
Fui pegar gripe e bicho-de-pé
Para algum adulto me xingar
Fui estragar a paz dos injuriados
Dos velhos ranzinzas e suas rugas de preocupação
Fui brincar com minha criança
Que de vez em quando
Caia de bicicleta
Mas não perde a esperança.

Ilusão
Enquanto sonhava
Pensei que vivia
Pensei que pulava
Enquanto caia
Quando chorava
Na verdade sorria
Na verdade estudava
Enquanto aprendia
Imaginei eu parado
Na verdade corria
Viajando em seu mundo
Percorri os meus dias
RETRO VISOR
Quando me ponho a expressar
me perco numa derrapada curva da vida
que me apresenta de repente à frente...

Escapada triunfante da alma
desenhada em letras, palavras, frases
e meio poesia de estrada
... melodia...
... melo dia ...
meio dia

Com nadadeiras de tartaruga
mergulho fundo em palalgas marinhas
que me aninha em seus entremanhados seios

Quando me proponho amar
escapo das idéias calculosas pelo retrovisor - retro visão –
de uma bicicleta em movimento...

...me sento no à cento sendo embalado pelo vento...

A Arte dos Descobrimentos
Das revelações profundas
Espanto das almas
E a consciência do que não tinha
O despertar de outros
De Eus
Na revelação de filmes
De negativos a positivos
De algumas coisas ainda
Misteriosas...
Em maneiras diferentes de
Viajar, de tratamentos,
De gostos adquiridos
Nesta transformação contínua
Do dia-a-dia, de adaptação
E pé na frente, dedo no asfalto,
Pedaladas persistentes e
Dedicação
Pouca recusa ao não
Força na fé de Deus, decisão
A arte de descobrir a direção.


A lembrança de tempo
Dá saudade do espaço
Amizades à distância
Nesta estrada é o que faço.


BICICLOINTEIRO
Sou um ciclista errante
Que tromba de cara com a vida
Meu ciclo é sempre constante
Renovado pelo caminho...

Adormeço em braços e barracas
Nas fogueiras de luas cheias
Escuto a natureza e araras
Surpreendente por sua beleza

Sou um ciclo vicioso
Sedento por aventura
Viajo pelas estrelas
Mochileiro, vôos distantes

Mantenho minhas relações
Como os ciclos amores
Tento passar liberdade
Felicidade além dores

As ciclo interações humanas
que troca, cativa, me toca
Como pele queimada do sol
Escurece, forte e acende.

Meu pedal é com muito cuidado
Me arrisco se precisar
A estrada sou eu quem traço
Por mapas e derivas

Minha bagagem são necessidades
Que quero saber tratar
Se cidadão do mundo sou
Vou me ciclo reciclar...


A Vida é uma Bike Dupla
Um dia saí para pedalar
Eu e a magrela.
Encontramos muitas coisas assim
Outros assados...
Mas tudo que vimos
Foi engraçado
Um momento do futuro
E outro do passado
Minha bicicleta queria mais
Passear pelo Brasil
Da Amazônia ao Cerrado
Íamos dia a pós dia
Conhecendo cobras e veados
Sempre com o sol na cabeça
Pessoas humildes ao nosso lado
Foi uma pedalada e tanto
Alguns pneus furados
Raias, aros,
Cabos e câmbios trocados
Eu e minha magrela
Descobrimos uma aventura
Armamos a barraca
Na mãe Terra natureza
Respeitando sua vontade
Viajamos com firmeza
Teve chuva, teve vento
Barraca molhada e tormento
Foi uma grande brincadeira
De criança grande
Mas sem mamadeira
Percorremos muitos mil quilômetros
Até gastar o pneu
Foi quando percebemos
Que estávamos muito longe,
com sono
cansados.
Só ela
e Eu



Infinito horizonte
No pedal
De onde vem o vento
E nem vento contra existe
Um movimento para frente
E outro momento insiste

Vôo aéreo
Quando tirar os pés do chão
Segure as pontas do coração.



Seguimos reto mas fazendo curvas...

Olhos
O que vejo
Além do mundo
Olhos...
O que lá no fundo
Você revela
Olhos...
Infinito é seu horizonte
Olhos...
Que me mostra
Toda a vida nos
Olhos...

Gestal Aventura
São fortes as emoções com que estou acostumado. Os ventos-vendavais, no mar, soltam a imaginação pelos cabelos rebeldes no ar. O sopro azul e forte que mostra o caminho dos aventureiros descritos em diários de bordo. Desenhos de paisagens imaginárias surgem na curva do mundo. A intensidade é um contraste, de correntes dinâmicas de múltiplos fluídos. O movimento ação é o momento, tempo, espaço e deslocamento. No viajar suave da brisa que desliza por cima, baixinho. Ou mesmo, um manso carinho que escorre do corpo todo, o sussurrar, o medo, o êxtase quentinho...


Retro Visor
Quando me ponho a expressar
me perco numa derrapada curva da vida
que me apresenta de repente à frente...
Escapada triunfante da alma
desenhada em letras, palavras, frases
e meio poesia de estrada
... melodia...
... melo dia ...
meio dia
Com nadadeiras de tartaruga
mergulho fundo em palalgas marinhas
que me aninha em seus entremanhados seios
Quando me proponho amar
escapo das idéias calculosas pelo retrovisor - retro visão –
de uma bicicleta em movimento...
...me sento no à cento sendo embalado pelo vento...


Acabei descobrindo
o descoberto
uma abertura
no tempo
mistérios
do universo !


Imaginação
de portas abertas
janelas ao vento
pronta para
bater asas
ao momento
louca desvairada
em seu movimento...
O Mundo de Cabeça prá Cima
Em voltas tortas
E revira voltas
Me arreto
Assim,
No dia seguinte, confesso
Que o avesso do que faço
É um terço
Da metade
Do que desejo
Desta vida
que me traço



Poucos movimentos
Uma só ação
Ventos que carregam areias
Tudo por conta da emoção.


Viagens de Passarinho
Hoje voei mais cedo, não gosto de falar da real-idade, gosto de criar maneiras novas de in-ventar mundos.
In-vento-mundos....

As vezes gosto de ficar mudo, não ter o que falar, não querer falar. Gosto de escrever o que penso, o que passa, por de dentro de mim. Gosto de escutar música e viajar na melodia, como uma sinfonia da vida que consegue nos carregar. Um vídeo clip do qual somos o personagem central, descentralizados...

... o som nos enche de vontades e ações que não serão possíveis, outras vezes, sim. O violão de fundo preenche um vazio infinito que se dissipa no ar. O ritmo, feito fogo, aumenta aos poucos, acelerando o coração, uma louca paixão invade o ser total numa velocidade da luz, que grita, pula e mexe com todos os sentidos.

A alegria instantânea chega a impulsionar os desejos e liberta a alma no vácuo puro. Estamos soltos para uma queda livre, sem as barreiras do vento, sem assobios e acentos.

Rachar a cara de quem ficar por perto, espatifar no chão no ritmo certo do salão. Realçar o instante com as mãos, único momento, que pode não ser, nunca mais...

... cuidar com carinho o rosto fadigado, em sangue escorrido e figuras mutiladas ao nosso lado, sem mudas de roupas, maltrapilhos do destino, meio fio cortante em fatias desiguais de um pobre menino.

Desejos concebidos desprovidos de sentidos, para lá e para cá, rodeados de cinismos, circuitos viciosos, várias facas de muitos gumes. Entra no corpo arrebentado de ser descorporificado. A máquina que produz desejos desjeitosos, espera os filhos nossos, os próximos...

Agüentar sem fuga pode não ser a saída, quando a vida se apresenta de frente, de peito aberto, acertar no alvo, da emoção, de um coração por perto...

Se perder do caminho pode acontecer. Ao saber que estamos sem rumo, os abraços remam sem direção, atraca aos poucos no corpo, de uma nova paixão...

Posso até amar a solidão, e assim mesmo, te dar as mãos. Posso amar sua boca, dizendo besteiras, amar ao seu lado ou mesmo distante, e de várias maneiras. Podemos nos completar em viagens cósmicas, como os dois passarinhos que querem se conhecer...

E nesse meio caminho, promovem juntos uma revolução. Agüentar o vácuo de um buraco aberto em nossos espaços, com medo e prazer, escolhermos uma suntuosa árvore para estabelecer o ninho ...

Dar um rasante com a corrente de vento para depois nos equilibrar, o tempo passa em nossas asas em outro rasante pra não ficar sem graça, uma pirueta outra rodopiada, para encantar a vida, e a namorada.

O fogo que acende o coração estampa um sorriso alegre contaminando o entorno. Amar é revolucionar o todo. Chacoalhar os esqueletos humanos, desmascarando-os seus planos, num pano de fundo profundo...

Desejar um beijo gostoso, meloso, mil possibilidades do gozo. Poder beijar seu rosto fervoroso, no contato imediato que não deseja desato... Imaginar nós dois colados, rodopiados, adormecidos no ninho, quentes e entorpecidos...